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Ofício de Professor: Um Duvidoso Prestígio!

Uma cruel e dura realidade é vivenciada em nossos tenebrosos dias pelos docentes das escolas públicas brasileiras, sobretudo em face da banalização profissional e da consequente perda de cidadania, uma vez que a ideologia da espetacularização, vigente em nossa sociedade, na qual as imagens valem mais que as palavras, não apenas transforma os professores em indivíduos alienados e passivos, bem como, manifesta em toda a sua evidência o empobrecimento do intelecto, a sujeição a governos autoritários ou aos tecnocratas educacionais e, por fim, a negação da própria vida real.
Nesse obscuro cenário, observamos que a escola pública, antes um espaço de ideias plurais, tornou-se esvaziada emocionalmente devido ao excesso de informações, de solicitações e de estímulos, pedagogicamente, impostos aos “prestigiados” professores que os devem cumprir com o máximo rigor possível em nome de uma opressiva onda de inovações educacionais que lhes furta a autonomia e a liberdade de ensino, restringindo ao máximo a ação do docente, a serviço da velha, mas sempre útil, política social do pão e circo.

O maior constrangimento, no entanto, que hoje afeta os cabisbaixos docentes pelo Brasil afora, vai muito além das habilidades pedagógicas exigidas a fim de atender a alunos infantilizados que julgam a vida escolar absolutamente enfadonha. Também as famílias daqueles alunos oriundos das camadas mais miseráveis da sociedade, incapaz de promover a educação dos filhos, atribuem essa obrigação aos professores, cabendo, desse modo, a eles inculcar nos estudantes alguns valores e princípios que, de fato, competem ao estamento familiar como por exemplo: o desenvolvimento rigoroso do respeito, do senso de responsabilidade e da autonomia.

Diante dessa quase impossível missão, principalmente em um obscuro momento histórico marcado pelos desejos egoístas e pela preocupação cada vez menor com o bem estar do próximo, os profissionais do magistério passam a vítimas de indistintos alunos que, sem diálogo em seus lares, descarregam as frustrações existenciais desrespeitando ou, eventualmente, agredindo seus professores na sala de aula sem que nenhuma medida seja eficazmente tomada, objetivando a implantação do respeito a todos que exercem o cruciante ofício de ensinar; expondo-os, assim, ao iminente risco de doenças como o esgotamento físico, a tristeza, a síndrome do pânico e a depressão, dentre outros males causados por bullyng, perseguições ou assédios morais, praticados, inclusive, por alguns colegas ou por “superiores” hierárquicos da esfera educacional.

Inseridos nesse nocivo e indigno contexto social, os profissionais da área docente, embora não tenham nenhum poder para modificar ou, sequer, para criticar as ações e os planos previamente definidos pela secretaria da educação e repassados à escola para serem imediatamente cumpridos, são apontados como responsáveis diretos pela baixa aprendizagem dos estudantes no ensino básico e, ainda, implicitamente tachados, pela infraestrutura politico-educacional como “despreparados” ou, no mínimo, com formação acadêmica ineficiente para o “fordista” paradigma de ensino a ser adotado como redentor do quase falido sistema de ensino público brasileiro.

Assim, em virtude desse tendencioso diagnóstico, nossos submissos professores passam, em última análise, a sofrer um austero controle de suas práticas pedagógicas que perdem, então, seu caráter subjetivo e sua criatividade; enquanto os próprios educadores, na condição de pessoa humana, acabam perdendo seu “eu” e a sua auto referência por conta do excesso de atenção a um hierárquico cronograma que os torna, enfim, um superficial e frívolo conjunto, absolutamente desprovido da auto reflexão e do poder de pensamento crítico e, ao mesmo tempo, dependentes indiferenciados do espetáculo imagético que não somente serve para comprovar o trabalho desses docentes, mas, também, o seu “real” cumprimento.
Por Valter Silva. Graduado em Pedagogia e Letras pela Uneb.

Filadélfia Bahia, Setembro de 2019.

 

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