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APAREÇO, LOGO EXISTO!

APAREÇO,
LOGO EXISTO!



O
cenário que caracteriza o Brasil de nossos dias é, acima de tudo, da mais
completa descrença quanto a possíveis soluções dentro da atual ordem das
coisas. Assim, enquanto não ocorre a mudança dessa ordem, assistimos a uma
desenfreada corrida para o “salve-se quem puder”, com cada um
cuidando de seus interesses e procurando tirar o melhor partido em proveito
próprio, e para o presente momento, das oportunidades que, porventura, apareçam
ao alcance das mãos.


Nessa
desenfreada busca por ocupação e glória, as pessoas acabam caindo, cada vez
mais, em um imenso vazio, sendo que o desvio do mundo espiritual e também suas
distrações e modas são as causas visíveis da queda na mediocridade e na
superficialidade do ser humano da presente época.


A
sincera compaixão e a solidariedade que deveriam sensibilizar os seres humanos
diante das dores do outro já não existem, porque perderam lugar para uma
indiferença onde as pessoas são substituídas por máquinas nas quais o rol das
relações sociais aumenta, de forma gigantesca, mas, paradoxalmente, também
distancia as pessoas reais, ou seja, aquelas de carne e osso.


A
educação, nesse contexto, não está imune à insensibilidade e à consequente
falta de ética que mal começam despontar em nossa presente organização social.
Em um tempo que incita as pessoas à disputa cruel e à rivalidade, os membros da
escola em seu todo, até mesmo os próprios alunos e seus pais, convivem de
maneira superficial ou mesmo fria em suas relações interpessoais no âmbito
educacional, refletindo, com nitidez,  uma sociedade emocionalmente
adoecida.


O
isolamento e a solidão são as marcas registradas do nosso tempo, que são
ocultos, porém, pela crença de que o desenvolvimento humano chegou ao seu topo;
mascarando, então, o caos onde a humanidade febrilmente se afunda.


Através
do uso de aparatos midiáticos que roubam a intimidade e a espontaneidade das
pessoas, inexistindo neles, desse modo, qualquer processo interativo, a escola
vive, na verdade, o esvaziamento das relações humanas que, em suma, transforma
os educadores em “objetos espetaculares”, adquirindo uma outra
identidade, forjada por tecnocratas, travestidos de especialistas da educação,
em nome da plutocracia governante. Essa, por seu turno, pretende transformar o
real em uma representação falsificada a fim de ampliar a esfera da alienação e
da desapropriação do poder de pensamento crítico do povo.


Inseridos
em um universo educativo espetaculoso, onde uma simples imagem vale mais que
mil palavras, os “donos da escola” tendo por finalidade apenas
encantar a massa receptora, utilizando informações contidas em uma relação
artificial e dissolúvel, fazem com que professores e alunos  se apresentem
em papéis a serem representados socialmente nas suas práticas cotidianas.


Logo,
o que é visualizado na tempestade de fotos, sempre com padronizado sorriso à
mostra, não significa que estamos próximos dos educadores e educandos do ponto
de vista afetivo; isto porque ao  ver o comportamento de uma pessoa somente
através de imagens, não podemos ter a compreensão integral de sua personalidade
e de sua conduta ética no seio da sociedade. Vemos simplesmente o aspecto
superficial de sua existência.


Nesse
cínico teatro educacional, a escola como espaço público é esvaziada dos
sentimentos verdadeiros de solidariedade por excesso de informações e de
estímulos, tudo intermediado por muitas fotos, onde o EU perde a sua referência
e sua individualidade, tornando-se um conjunto risonhamente estúpido e tolo. As
relações humanas no âmbito pedagógico são, consequentemente,  cada
vez  mais fragilizadas pela afirmação egoísta dos grosseiros interesses
materiais em prejuízo de uma colaboração individual, de cada um, para o
progresso pleno da esfera pública.


Há,
portanto, um novo paradigma do pão e circo, desprovido de qualquer profundidade
psicológica e baseado no culto de um modelo vulgar de exterioridade que
“ensina” tanto a alunos quanto a professores que para alcançar o
bem-estar existencial não se deve pensar, pois, pensar é cansativo e mais do
que isso, é perigoso! Nesse obscuro modelo educacional há, enfim, o
empobrecimento, a sujeição e a negação da vida real em favor da frívola
diversão, da glória e, especialmente, do bajulador e egoísta reconhecimento
para o qual só existe quem aparece, sorrindo, sempre sorrindo!


*Por
Valter Silva.*