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PROFESSOR VALTER SILVA: O Véu de Maia

Em
seu livro A República o filósofo grego Platão elabora uma teoria sobre uma
sociedade que ele considera ideal; destinando cada cidadão para cada função e
ainda pensando a ordem e a organização bem como a forma de viver de cada um. As
profissões e sua importância na cidade, tudo era pensado pela formação
educacional que, por seu turno, deveria domesticar a alma e desenvolver as
virtudes dos homens. Essa quase perfeita idealização da sociedade, entretanto,
nunca foi concretizada devido ao egoísmo que faz com que a humanidade sempre
veja as coisas não como elas realmente são, ou como deveriam ser, mas, sob a
ótica da ilusão e das aparências.

Nos dias de hoje é cada vez mais difícil a retirada do véu da ilusão, que na
filosofia indiana significa esconder a realidade das coisas em sua essência e é
chamado de o Véu de Maia. Vemos, cotidianamente, muitas pessoas que se julgam
felizes porque fazem compras, ou porque apenas frequentam o shopping center.
Há, assim, uma sociedade cinicamente dividida, na qual uma ascendente minoria,
que acha que o mundo é só beleza e fotos, despreza e nega aqueles que gritam
contra a miséria, sobretudo educacional e, paralelamente, procura convencer os
oprimidos e alienados de que o mundo é um conto de fadas belo e cheio de gente
solidária e servidora.
Nesse nebuloso cenário, percebemos que a atual formação educativa oferecida por
nossas escolas, aquela que deveria civilizar os homens desenvolvendo suas
virtudes, está pior do que nunca; e isso ocorre, principalmente, porque o sonho
de se tornar “o dito cidadão respeitado”, afetou a comunidade
educativa pelo desejo de se transformar em uma casta que sequer ouve aqueles
que trabalham e muito menos se importa com o que eles dizem. Vejamos, por
exemplo, a participação cada vez mais pífia dos servidores, em especial dos
docentes, na luta por seus direitos trabalhistas. Tal comportamento
desagregador faz com que muitos professores e professoras, em uma atitude
absolutamente calculada, procurem se tornar “sinhozinhos ou 
sinhazinhas” que, igualmente aos maus gestores públicos e em nome dele,
desconhecem ou até menosprezam alunos e mesmo certos colegas porque os enxergam
como seres humanos, porém, desiguais.
É neste perverso contexto que a indisciplina e o desrespeito dos alunos são
ignorados por um expressivo número de docentes, porque estas atitudes
representam justamente a ostentação daqueles que são vistos só como excluídos:
“sem base familiar”, “miseráveis” e “drogados”.
Ao utilizar este batido discurso, a viciosa escola, na verdade, se omite de sua
verdadeira missão que é formar seres livres e iguais, maquiando-se de espaço
acolhedor e de natureza servidora e cabendo, enfim, à polícia ou à justiça
qualquer tipo de penalidade punitiva ao futuro cidadão aprendiz.
É, portanto, falsa a definição da escola como instituição consolidadora da
democracia, pois, na realidade, no âmbito escolar, a “prática
democrática” só é exercida entre os que são considerados como mais iguais,
ou seja, entre aqueles que são detentores de voz na sociedade, cuja maior
meritocracia é obtida no abominável levantamento da bandeira do partido do
interesse próprio. Mesmo certos colegas professores, que não desfrutam de
nenhuma influência através das podres benesses políticas, são vistos como
“inúteis”, ou, tão somente, como iguais. E essa padronização, que
existe não por uma questão de raça, de cor ou de religião, é adotada por
pessoas que se julgam mais iguais entre si”, “as pessoas do
bem”; que, por isso, criam leis, colocam cercas, definem espaços e segregam,
enfim, as pessoas, acreditando que são donas do mundo, ou, no caso específico,
da escola.
Todos aqueles que cultuam o EU, infelizmente, não conseguem enxergar um NÓS,
porque tal realização só é possível junto a outros homens. Para ser, então,
aquilo que veio destinado a ser, o ser humano depende do outro; isso, todavia,
não como” mais igual” e sim, como igual, inclusive coletivamente!
Mas…Hac urget lupus, hac canis..
*Por Valter Silva.*